Roma é
fascinante. Em qualquer época do ano, há turistas por todos os lados. Mulheres
chics saem de carros sofisticados e entram nas butiques de luxo na via del
Corso. A uma quadra de lá, tudo está calmo no restaurante em que espero Silvia
Fendi, diretora de criação de acessórios da grife, para uma entrevista. Ela
chega e, ao me ver contemplar a serenidade do lugar, diz: "Aqui, nada muda
há 50 anos". E a própria Silvia é uma parte dessa eternidade. Uma pioneira
que revolucionou seu trabalho, que é criar bolsas. Em uma época em que,
frequentemente, boa parte do lucro de uma marca provém da venda desse
acessório, o savoir-faire de Silvia vale ouro. Digo isso a ela, que sorri. Por
mais modesta que seja, sabe que é verdade.
Silvia
Fendi é filha de uma das herdeiras do clã encabeçado por Edoardo e Adele Fendi.
O casal, que fundou a grife em 1925, teve cinco filhas, que hoje administram o
negócio. "Minha mãe era quem fazia as bolsas", conta Silvia. Ainda
criança, ela brincava no ateliê quando voltava da escola. Seu gosto pelas cores
deve vir dessa época, já que ela descreve em detalhes o lugar: os tons das
cortinas, o cetim que cobria as paredes, o revestimento do sofá. "Eu
olhava as bolsas e havia espelhos dentro delas. Nunca mais esqueci esse
detalhe." Naturalmente, Silvia começou a trabalhar na maison aprendendo
cada detalhe do negócio e, sobretudo, acostumando-se com a audácia que
acompanha a grife - como tingir e cortar peles de forma única.
Nos anos
1990, quando o minimalismo ganhou força na moda, Jil Sander virou o emblema
desse "nouveau chic", a Prada lançou a bolsa simples de náilon preto
e a Fendi decidiu se colocar também nesse mercado. Silvia é acionada e recebe
uma encomenda: criar uma bolsa com esse conceito. Ela pensou, então, que
"minimalista" poderia ser traduzido como "que contém o
mínimo". Nascia, então, em 1997, a bolsa Baguette. Pequena, mas
mole, acomodava bem os pertences da dona. Cara e sofisticada ao extremo, trazia
no fecho o duplo F, símbolo da grife, que vem dos anos 1970. Com a alça curta,
que deixa as mãos livres, nasceu com o celular - e parece feita para ele.
O sucesso
foi estrondoso. As pessoas encomendavam e ficavam esperando os modelos por
meses. Foi o início de um comportamento hoje bastante disseminado: entrar na
lista de espera de um acessório. Por mais contraditório que possa parecer,
Silvia não gosta do termo it-bag - e eu fico chateada de escrever aqui, longe
de seus olhos, mas foi ela quem inventou o conceito. "A minha cultura me
deixa insensível às coisas vazias", explica a designer.
Depois da Baguette,
outro grande sucesso: a Spy, que também provocou histeria e rapidamente
caiu no gosto das mulheres de todo o mundo. De diferentes cores e acabamentos,
continua sendo um dos best-sellers da maison. E essa fabulosa aptidão para
criar peças icônicas não para. "Depois da avalanche de ostentação, eu
pensei que talvez pudesse haver um retorno aos verdadeiros artigos de couro,
com certa rigidez, mas também com doçura, sem a qual não podemos viver."
Ela criou, então, a Peekaboo, palavra inglesa que significa
"esconde-esconde", que passou a fazer parte de uma longa tradição de
bolsas de mulher, em que se pode encontrar a cultuada Kelly, da Hermès.
Atualmente, o modelo recebe diferentes padronagens, como croco ou retrô. A
bolsa foi lançada em 2009, ano em que se desencadeou a crise econômica mundial.
Enquanto a Baguette, minimalista, era pertinente ao mundo clean, a Peekaboo
contrastava com os símbolos exteriores de riqueza.
Na
primavera passada, a bolsa Silvana foi lançada. Mais uma vez, Silvia
acionou a sua bola de cristal e teve o insight de que, nas fotos e imagens da
campanha publicitária, não era mais nos braços de uma it-girl que a bolsa
deveria ser vista, mas, sim, em primeiro plano, com uma mulher conhecida ou
desconhecida. Só a bolsa era importante - seus detalhes, sua nobreza, sua
autoridade. E novamente deu certo. O modelo, por si só, já é um acontecimento
Na
primavera passada, a bolsa Silvana foi lançada. Mais uma vez, Silvia
acionou a sua bola de cristal e teve o insight de que, nas fotos e imagens da
campanha publicitária, não era mais nos braços de uma it-girl que a bolsa
deveria ser vista, mas, sim, em primeiro plano, com uma mulher conhecida ou
desconhecida. Só a bolsa era importante - seus detalhes, sua nobreza, sua
autoridade. E novamente deu certo. O modelo, por si só, já é um acontecimento
By ModaSpot.com