Do alto dos meus 50 anos, eu andava bastante preocupada com
o que vinha acontecendo com minhas memórias.
E não é de hoje! Por mais que me
esmere em tudo que faço, leio, assisto
ou estudo, como por encanto... Subitamente... Desaparece do arquivo. O sentimento é de pura frustração. O que foi feito dos 4 anos de curso de inglês
com excelentes notas? Sem respostas em
português e muito menos em inglês. E de repente tropecei neste texto fantástico
de nossa amiga Martha ( Medeiros, claro!) e deixei de me sentir um ser a parte na criação... Ufa,
que alívio!!!
Sobre o quê mesmo que eu ia escrever? Vou lembrar só um pouquinho. Calma... Espere um instante...
Lembrei. Quero escrever
sobre uma piada que cada dia se propaga mais entre as rodas de amigos. Pessoas trocam as palavras, esquecem nomes,
se perdem no meio das frases e, para se justificar, dizem: é o “alemão” se manifestando. Alemão é o apelido do Alzheimer, e quá quá
quá, todos acham a maior graça da brincadeira, mas eu já não estou achando
graça nenhuma.
Outro dia assisti na tevê a uma entrevista de um
neurologista que dizia, entre outras coisas, que as mulheres têm uma memória
melhor do que a dos homens. Estou em
apuros. Comentei com uma amiga que está
na hora de eu fazer uma vasculhagem cerebral, marcar meia dúzia de tomografias
e enfrentar o diagnóstico, seja ele qual for.
Ela comentou que sente vontade de fazer o mesmo, mas que não tem coragem,
porque é certo que algum curto-circuito será detectado: não é possível tanto
esquecimento, tanto branco, tanto abobamento.
Acontece com ela, acontece comigo, e com você aposto que também, ou você
não lembra?
Alzheimer é doença séria, mas, que me conste, ainda não
virou epidemia. O que vem sucedendo com
todas ( to-das!) as pessoas com quem converso é, provavelmente, uma reação
espontânea a esse ritmo vertiginoso da vida e a esse turbilhão de informações
que já não conseguimos processar. É chute
meu, óbvio. Meu diploma é de
comunicadora, não de médica. Mas creio
que o motivo passa por aí: nosso cérebro
está sendo massacrado por uma avalanche de nomes, números, datas, rostos,
fatos, cenas, frases, fotos, e por isso só pode acabar em pane.
Coisa da idade? Então
me explique o fenômeno que relato a seguir:
“ontem a gente vai dormir na casa da Gabriela, mãe”. Ontem vocês irão aonde, minha filha? Ela caiu na gargalhada. “Putz, quis dizer amanhã! Amanhã a gente vai dormir na casa da Gabriela”. Escassos dezessete aninhos e uma overdose de
horas de navegação no mundo alucinógeno do MSN, My Space, YouTube, Orkut e
grande elenco: só pode ser efeito
colateral da informática, ou ela também já entrou pra turma das desvairadas?
Pode ser apenas mal de família. É uma hipótese, porém tenho reparado que é
mal não só da minha, mas de todas as famílias do planeta. O que é que está me escapando?
Afora muitas palavras difíceis e também as fáceis, muitos
verbos complicados e também os de uso contínuo, muitos nomes desconhecidos e também
os de parentes em primeiro grau, nomes de cidades distantes e o da cidade em que
me encontro agora – Porto o que, mesmo? – o que está me escapando é uma
explicação decente.
O que é que está acontecendo com a gente?
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