quinta-feira, 29 de março de 2012

O Charme da Fendi



Roma é fascinante. Em qualquer época do ano, há turistas por todos os lados. Mulheres chics saem de carros sofisticados e entram nas butiques de luxo na via del Corso. A uma quadra de lá, tudo está calmo no restaurante em que espero Silvia Fendi, diretora de criação de acessórios da grife, para uma entrevista. Ela chega e, ao me ver contemplar a serenidade do lugar, diz: "Aqui, nada muda há 50 anos". E a própria Silvia é uma parte dessa eternidade. Uma pioneira que revolucionou seu trabalho, que é criar bolsas. Em uma época em que, frequentemente, boa parte do lucro de uma marca provém da venda desse acessório, o savoir-faire de Silvia vale ouro. Digo isso a ela, que sorri. Por mais modesta que seja, sabe que é verdade.

Silvia Fendi é filha de uma das herdeiras do clã encabeçado por Edoardo e Adele Fendi. O casal, que fundou a grife em 1925, teve cinco filhas, que hoje administram o negócio. "Minha mãe era quem fazia as bolsas", conta Silvia. Ainda criança, ela brincava no ateliê quando voltava da escola. Seu gosto pelas cores deve vir dessa época, já que ela descreve em detalhes o lugar: os tons das cortinas, o cetim que cobria as paredes, o revestimento do sofá. "Eu olhava as bolsas e havia espelhos dentro delas. Nunca mais esqueci esse detalhe." Naturalmente, Silvia começou a trabalhar na maison aprendendo cada detalhe do negócio e, sobretudo, acostumando-se com a audácia que acompanha a grife - como tingir e cortar peles de forma única.



Nos anos 1990, quando o minimalismo ganhou força na moda, Jil Sander virou o emblema desse "nouveau chic", a Prada lançou a bolsa simples de náilon preto e a Fendi decidiu se colocar também nesse mercado. Silvia é acionada e recebe uma encomenda: criar uma bolsa com esse conceito. Ela pensou, então, que "minimalista" poderia ser traduzido como "que contém o mínimo". Nascia, então, em 1997, a bolsa Baguette. Pequena, mas mole, acomodava bem os pertences da dona. Cara e sofisticada ao extremo, trazia no fecho o duplo F, símbolo da grife, que vem dos anos 1970. Com a alça curta, que deixa as mãos livres, nasceu com o celular - e parece feita para ele.

O sucesso foi estrondoso. As pessoas encomendavam e ficavam esperando os modelos por meses. Foi o início de um comportamento hoje bastante disseminado: entrar na lista de espera de um acessório. Por mais contraditório que possa parecer, Silvia não gosta do termo it-bag - e eu fico chateada de escrever aqui, longe de seus olhos, mas foi ela quem inventou o conceito. "A minha cultura me deixa insensível às coisas vazias", explica a designer.

Depois da Baguette, outro grande sucesso: a Spy, que também provocou histeria e rapidamente caiu no gosto das mulheres de todo o mundo. De diferentes cores e acabamentos, continua sendo um dos best-sellers da maison. E essa fabulosa aptidão para criar peças icônicas não para. "Depois da avalanche de ostentação, eu pensei que talvez pudesse haver um retorno aos verdadeiros artigos de couro, com certa rigidez, mas também com doçura, sem a qual não podemos viver." Ela criou, então, a Peekaboo, palavra inglesa que significa "esconde-esconde", que passou a fazer parte de uma longa tradição de bolsas de mulher, em que se pode encontrar a cultuada Kelly, da Hermès. Atualmente, o modelo recebe diferentes padronagens, como croco ou retrô. A bolsa foi lançada em 2009, ano em que se desencadeou a crise econômica mundial. Enquanto a Baguette, minimalista, era pertinente ao mundo clean, a Peekaboo contrastava com os símbolos exteriores de riqueza.

Na primavera passada, a bolsa Silvana foi lançada. Mais uma vez, Silvia acionou a sua bola de cristal e teve o insight de que, nas fotos e imagens da campanha publicitária, não era mais nos braços de uma it-girl que a bolsa deveria ser vista, mas, sim, em primeiro plano, com uma mulher conhecida ou desconhecida. Só a bolsa era importante - seus detalhes, sua nobreza, sua autoridade. E novamente deu certo. O modelo, por si só, já é um acontecimento

Na primavera passada, a bolsa Silvana foi lançada. Mais uma vez, Silvia acionou a sua bola de cristal e teve o insight de que, nas fotos e imagens da campanha publicitária, não era mais nos braços de uma it-girl que a bolsa deveria ser vista, mas, sim, em primeiro plano, com uma mulher conhecida ou desconhecida. Só a bolsa era importante - seus detalhes, sua nobreza, sua autoridade. E novamente deu certo. O modelo, por si só, já é um acontecimento


By ModaSpot.com